Extraordinário conta a história
de August Pullman, o Auggie. Ele nasceu com uma síndrome genética que foi
responsável por diversas cirurgias e complicações médicas. Por este motivo,
Auggie não frequentou, até o momento, o ambiente escolar. Afastada a necessidade de novas cirurgias e
com sua situação de saúde relativamente controlada, surge um novo desafio em
sua vida: frequentar a escola. Apesar de aparentemente fácil
para os demais alunos, para Auggie frequentar a escola significa expor o seu
rosto e sua “fraqueza” para os demais colegas que não o viam como uma pessoa
normal. Tarefa extremamente difícil para um menino que levou anos utilizando um
capacete, toda vez que saia de casa, para esconder estas deformidades.
Lidar com essas situações-problemas na escola
e na vida, onde quase todos o viam como um indivíduo que parecia possuir uma
doença infectocontagiosa é uma tarefa bastante complexa. O livro consegue
expressar os sentimentos deste nobre menino ao passar pelo processo de
exclusão/marginalização daquele contexto e quais serão as suas estratégias
utilizadas para vencer este conflito.
Este é um livro importantíssimo
para diversos grupos sociais tais quais adolescentes, já que costumam andar em grupos/tribos e de
alguma maneira acabam excluindo os diferentes, no caso August. Dessa maneira,
poderiam compreender o que se passa no cognitivo daquele que está marginalizado
do grupo. Defendo ainda a leitura deste livro para os adultos e, sobretudo, profissionais da saúde.
Numa sociedade em que há a internet
como a centralidade do processo, o culto ao imediatismo e às relações efêmeras temos
como resultado a Síndrome do Pensamento Acelerado. Esta se apresenta como
reflexo de, cada vez mais, falta de amadurecimento dos processos emocionais,
impulsividade, baixa capacidade de resiliência e dificuldade de se envolver nas
relações interpessoais inseridas em seu contexto, visto que estamos sempre
preocupados em satisfazer o nosso eu. Nessa perspectiva, é que a leitura do
livro é fantástica e vai na contramão dos processos desta aceleração que nos é
imposta justamente porque Extraordinário se propõe a
expor/trabalhar as sensações e a maturidade de um garoto extremamente jovem,
contudo com grande elaboração emocional. Consegue ainda, captar o impacto que um
menino pode causar na vida e no comportamento de todos, família, amigos e
comunidade.
A leitura do livro, portanto, nos
leva à reflexão e compreensão dos sentimentos do outro, a partir da problemática
enfrentada pelo menino e por sua família, permite que possamos, assim, exercer a
nossa empatia. Esse sentimento parece estar em
declínio atualmente, pois estamos extremamente preocupados em lidar com
nossos próprios problemas e limitações que, por fim, nos impulsionam ao
julgamento do outro porque passamos a compreender a realidade na qual aquele
indivíduo está inserido de acordo com o nosso contexto social. No momento em
que exercitamos a empatia e nos livramos do pré-conceito (literalmente falando)
podemos compreender a situação problema que aquela pessoa está inserida e
entender a sua dor, promovendo um ambiente acolhedor e consequentemente a
satisfação deste usuário do serviço de saúde. Aceitá-la ou não já faz parte de
um processo avaliativo sobre o qual não cabe a nós nem como profissional da
saúde nem como indivíduo coadjuvante neste processo, cabe sim, ao indivíduo que
esta passando pela situação, na medida em que ele possa se entender como ator
social e, portanto, capaz de modificar a realidade na qual está submerso.
Ao entendermos que a sociedade
capitalista nos impõe um pensamento acelerado e normalmente voltado para as
relações financeiras, verificamos que nós profissionais da saúde estamos preocupados, substancialmente, como nossas capacidades de produção ao
invés de focarmos na qualidade dos atendimentos ali prestados. A partir deste
ponto de vista é que aponto este livro como uma importante ferramenta para nos trabalharmos
e melhoramos as relações interpessoais no campo da saúde.
Crédito da imagem: http://www.fecheicomele.com.br/2013/10/extraordinario-rj-palacio.html
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