sexta-feira, 21 de fevereiro de 2014

Um diálogo sobre a gestão dos problemas do processo de trabalho em saúde, as relações de poder e as fragmentações profissionais.

Peço licença para discutir inicialmente dois termos que aparentemente semelhantes, mas que conceitualmente fazem toda a diferença quando nos referirmos à gestão. Os termos são autoridade e poder. Poder refere-se à capacidade de impor uma tarefa a ser realizada pelo colega mesmo quando ele prefere não realizá-lo. Por sua vez a autoridade é a habilidade de conduzir o colega a realizar o trabalho necessário sem imposições. Nesse sentido, é interessante notar que as características da liderança baseada no poder são momentâneas já que é possível conseguir as coisas baseadas na imposição, entretanto, quando usado de maneira autoritária o poder tende a desestruturar as relações interpessoais que permeiam as relações de trabalho. Dessa forma, as consequências no ambiente de trabalho podem não ser agradáveis e a equipe tende a desmotivar-se. Já na liderança por autoridade, a figura do líder existe para conduzir e auxiliar no processo e normalmente as pessoas estão motivadas, assim como conseguem se envolver com a construção do produto de seu trabalho.

Com isso não quero dizer que existe perfil de líder por autoridade ou não, e se o líder por autoridade não intervém no processo. Lógico que muitas vezes será necessário intervir no processo de trabalho, conduzir as pessoas adequadamente para que produzam melhor, e intervir nas relações interpessoais. Mas, o que deve ser pensado é: como vamos intervir!

Agora que já pontuamos as diferenças entre liderança por autoridade e liderança por poder, cabe expor que estes são temáticas extremamente pertinentes ao gestor, ao sanitarista e as pessoas que trabalham em equipe. E nós sabemos que quer queiramos ou não e se agirmos ou não, o trabalho de saúde é necessariamente interdisciplinar! Pois, precisamos entender o indivíduo em sua integralidade! Lembro aos senhores que a lei 8080 define integralidade como: conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em todos os níveis de complexidade do sistema. Acontece que diante do modelo de atenção a saúde hospitalocêntrico 
e diante da necessidade de separar o estudo em diversas disciplinas (especializações) para melhor compreensão do objeto de estudo, os profissionais da saúde, sobretudo, médicos se distanciaram da essência do trabalho em saúde.

Nesta linha de raciocínio, pensando que no indivíduo, o trabalho em saúde exige algum grau de comunicação com a equipe envolvida na assistência cabe ratificar o que Peduzzi trouxe de maneira brilhante. Para a autora esta interação entre os profissionais tende a ser de 2 tipos: equipe agrupamento e equipe integração. Na primeira, ou seja, na equipe integração o modelo de equipe priorizado tende a ser o multidisciplinar e à comunicação tende ser externa ao trabalho. Já na equipe integração tende a ocorrer uma interação entre os agentes do processo de trabalho (no caso, profissionais da saúde), assim costumam-se haver articulações conjuntas das ações propostas ou seja uma interdisciplinariedade.

Essa discussão de equipe remete a discussão proposta por Campos, em Equipes de referência e apoio matricial especializado, onde se traz como pautas de discussão o estímulo a gestão colegiada, vinculo terapêutico, a melhora na forma de comunicação dos profissionais da saúde e sobretudo, a responsabilização do profissional com o processo-saúde-doença do usuário do serviço.

Viram quanta coisa dá pra falar a partir do debate da fragmentação das relações profissionais e da relação de poder/autoridade estabelecida entre a gestão e os profissionais bem como entre as diversas categorias profissionais?? 

Pensando sobre esta problemática...Qual seria a postura dos profissionais da saúde a ser adotada? E a coordenador da equipe? O planejamento inicial seria adotar a postura do líder por autoridade e tentar estabelecer canais de comunicação adequados e coerentes, bem como favorecer este diálogo entre as profissões. Entretanto, o que observo, na prática, é que é mais difícil incluir os profissionais médicos neste diálogo e neste estímulo/realização do trabalho em equipe. Mas, dá pra começar assim mesmo, os dispositivos a seguir podem facilitar a transição da mudança. Assim a sugestão seria estimular a discussão de casos conjuntas, um dia de reunião de equipe e repasses, prontuário único por paciente e não prontuário por setor. Ou se acharem necessários os prontuários por setor, seria necessário realizar e atualizar o prontuário geral do paciente para que os outros colegas tenham acesso.

Por fim, Campos é mais inciso nas mudanças e propõe que as  equipes de referência sejam permanentes assim como recomenda que os departamentos não mais sejam organizados por setores/categorias profissionais e sim por “representantes/profissionais” de cada categoria compondo a equipe de apoio matricial. Esta certamente pode ser uma forma de estímulo ao “declínio” do poder/soberania médica e do modelo hospitalocêntrico nas instituições de saúde e concomitantemente estímulo a tão necessária transdiciplinariedade.
                          

Por ora é isso pessoal!

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