Peço licença para discutir inicialmente dois termos
que aparentemente semelhantes, mas que conceitualmente fazem toda a diferença
quando nos referirmos à gestão. Os termos são autoridade e poder. Poder refere-se à capacidade de impor
uma tarefa a ser realizada pelo colega mesmo quando ele prefere não realizá-lo.
Por sua vez a autoridade é a
habilidade de conduzir o colega a realizar o trabalho necessário sem
imposições. Nesse sentido, é interessante notar que as características da
liderança baseada no poder são momentâneas já que é possível conseguir as
coisas baseadas na imposição, entretanto, quando usado de maneira autoritária o
poder tende a desestruturar as relações interpessoais que permeiam as relações
de trabalho. Dessa forma, as consequências no ambiente de trabalho podem não
ser agradáveis e a equipe tende a desmotivar-se. Já na liderança por autoridade,
a figura do líder existe para conduzir e auxiliar no processo e normalmente as
pessoas estão motivadas, assim como conseguem se envolver com a construção do
produto de seu trabalho.
Com isso não quero dizer que existe perfil de líder por
autoridade ou não, e se o líder por autoridade não intervém no processo.
Lógico que muitas vezes será necessário intervir no processo de trabalho,
conduzir as pessoas adequadamente para que produzam melhor, e intervir nas
relações interpessoais. Mas, o que deve ser pensado é: como vamos intervir!
Agora que já pontuamos as diferenças entre liderança por
autoridade e liderança por poder, cabe expor que estes são temáticas extremamente
pertinentes ao gestor, ao sanitarista e as pessoas que trabalham em equipe. E
nós sabemos que quer queiramos ou não e se agirmos ou não, o trabalho de saúde é
necessariamente interdisciplinar! Pois, precisamos entender o indivíduo em sua
integralidade! Lembro aos senhores que a lei 8080 define integralidade como: conjunto articulado e contínuo das ações e serviços
preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em
todos os níveis de complexidade do sistema. Acontece que diante do modelo de atenção a saúde
hospitalocêntrico
e diante da necessidade de separar o
estudo em diversas disciplinas (especializações) para melhor compreensão do
objeto de estudo, os profissionais da saúde, sobretudo, médicos se distanciaram
da essência do trabalho em saúde.
Nesta linha de raciocínio, pensando que no indivíduo, o
trabalho em saúde exige algum grau de comunicação com a equipe envolvida na
assistência cabe ratificar o que Peduzzi trouxe de maneira brilhante. Para a
autora esta interação entre os profissionais tende a ser de 2 tipos: equipe
agrupamento e equipe integração. Na primeira, ou seja, na equipe integração o
modelo de equipe priorizado tende a ser o multidisciplinar e à comunicação
tende ser externa ao trabalho. Já na equipe integração tende a ocorrer uma
interação entre os agentes do processo de trabalho (no caso, profissionais da
saúde), assim costumam-se haver articulações conjuntas das ações propostas ou seja uma interdisciplinariedade.
Essa discussão de equipe remete a discussão proposta por
Campos, em Equipes de referência e apoio matricial especializado, onde se traz
como pautas de discussão o estímulo a gestão colegiada, vinculo terapêutico, a
melhora na forma de comunicação dos profissionais da saúde e sobretudo, a
responsabilização do profissional com o processo-saúde-doença do usuário do
serviço.
Viram quanta coisa dá pra falar a partir do debate da
fragmentação das relações profissionais e da relação de poder/autoridade estabelecida
entre a gestão e os profissionais bem como entre as diversas categorias
profissionais??
Pensando sobre esta problemática...Qual seria a postura dos profissionais da saúde a ser adotada? E a coordenador da equipe? O planejamento inicial
seria adotar a postura do líder por autoridade e tentar estabelecer canais de
comunicação adequados e coerentes, bem como favorecer este diálogo entre as
profissões. Entretanto, o que observo, na prática, é que é mais difícil incluir
os profissionais médicos neste diálogo e neste estímulo/realização do trabalho
em equipe. Mas, dá pra começar assim mesmo, os dispositivos a seguir podem
facilitar a transição da mudança. Assim a sugestão seria estimular a discussão
de casos conjuntas, um dia de reunião de equipe e repasses, prontuário único
por paciente e não prontuário por setor. Ou se acharem necessários os
prontuários por setor, seria necessário realizar e atualizar o prontuário geral
do paciente para que os outros colegas tenham acesso.
Por fim, Campos é mais inciso nas mudanças e propõe que as equipes de
referência sejam permanentes assim como recomenda que os departamentos não mais
sejam organizados por setores/categorias profissionais e sim por
“representantes/profissionais” de cada categoria compondo a equipe de apoio
matricial. Esta certamente pode ser uma forma de estímulo ao “declínio” do
poder/soberania médica e do modelo hospitalocêntrico nas instituições de saúde e concomitantemente estímulo a
tão necessária transdiciplinariedade.
Por ora é isso pessoal!
Sugiro a leitura:
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